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O REGICÍDIO DE 1 DE FEVEREIRO DE 1908:
01-02-08

POR: JOSÉ GARCIA


Categoria: Notícias

Um dia dramático na história de Lisboa.


Pelas 17 h. do sábado 1 de Fevereiro de 1908 o barco proveniente do Barreiro aproximou-se da Estação de Sul e Sueste, onde era aguardado pelos membros  do governo e outras personalidades proeminentes, pois nele vinha o rei D. Carlos, que tinha ido passar uma temporada a Vila Viçosa.


À distância um numeroso grupo de pessoas aguardava a chegada do rei, entre as quais umas cinco eram homens da Carbonária em que se destacavam Manuel Buíça, que escondia uma carabina por debaixo de um capote, e Alfredo Costa, que tinha um revólver. Pouco antes haviam estado no café Gelo, no Rossio, e preparavam-se então para realizar um atentado contra o rei.


Em Lisboa vivia-se ainda uma forte tensão política na sequência da abortada revolta republicana ocorrida a 28 de Janeiro, durante a qual se tentara derrubar o governo de João Franco, que exercia o poder sob um regime de ditadura temporária com o apoio do rei. Este autorizara em 31 de Janeiro a condenação ao exílio dos dirigentes presos durante aquele movimento, o que agravou ainda mais a ira de um dos grupos da Carbonária, organização de radicais republicanos que durante a agitação anterior tentara em vão matar João Franco. Alguns dos seus membros mais exaltados e extremistas  planearam então a execução do rei e dos restantes membros da família real quando regressassem a Lisboa, pois neste ambiente de grande exaltação política consideravam que a monarquia era a responsável por algumas das piores situações que então se viviam em Portugal.


Depois de ter desembarcado e cumprimentado as pessoas que o esperavam D. Carlos dirigiu-se para o palácio das Necessidades entrando numa carruagem descoberta e sentando-se ao lado da rainha D. Amélia, tendo à frente os filhos D. Luís Filipe e D. Manuel. Quando o veículo chegou a meio da rua que ladeia a arcada ocidental da Praça do Comércio e antes de começar a virar para a Rua do Arsenal ouviu-se um tiro. Foi então que Buíça saindo de junto das árvores da praça onde se encontrava colocou-se uns 8 metros atrás da carruagem, apontou com a sua carabina para o pescoço de D. Carlos e disparou um tiro que foi mortal, a que se seguiu outro que atingiu o ombro do rei e o fez cair sobre D. Amélia. Nessa altura ouviram-se mais tiros que terão vindo de junto da estátua de D. José, que não atingiram ninguém e teriam talvez por objectivo distrair as atenções do local onde se encontrava o rei. Nessa altura Costa saiu das arcadas e saltou para o estribo lateral da carruagem disparando dois tiros contra o rei e um contra D. Luís Filipe.

Este, que já se tinha levantado com um revólver na mão ficou ferido mas ainda conseguiu disparar contra o Costa ferindo-o também e obrigando-o a cair da carruagem, depois de em pé D. Amélia o ter tentado afastar com um ramo de flores que lhe haviam oferecido. Durante esta fase do tiroteio, Buíça mudou de posição e disparou um terceiro tiro que atingiu mortalmente o príncipe na cabeça quando a viatura já estava quase a chegar à rua do Arsenal, tendo sido aí que um tiro disparado não se sabe de onde feriu sem gravidade D. Manuel num braço. Só por essa altura é que Buíça foi interceptado por um soldado que o agarrou e por um tenente que o atingiu com um sabre, os quais, ainda foram feridos pelo regicida, que só de seguida acabou por ser imobilizado por polícias que o mataram a tiros de revólver, o mesmo destino que teve Costa depois de ter caído ferido.


Tinham passado cerca de três minutos desde o início do tiroteio quando pelas 17 h.  20 m. a carruagem entrou no Arsenal da Marinha, onde se verificou o óbito do rei e do príncipe real.


Os assassinos foram arrastados para o átrio da câmara municipal, para onde foi igualmente levado João Sabino, uma testemunha inocente dos acontecimentos que foi morto pela polícia, que o confundira com um dos regicidas que entretanto conseguiram fugir durante a enorme confusão vivida na Praça do Comércio com toda a gente a fugir.


O excesso de confiança de D. Carlos e de João Franco ao menosprezaram a ameaça de um atentado foi fatal para a monarquia, pois o assassinato do rei e do príncipe herdeiro facilitou a eclosão da República em 5 de Outubro de 1910. Com efeito o jovem monarca D. Manuel II, que sucedeu no trono, não conseguiu a desejada «acalmação» que impedisse a tomada do poder pelos republicanos, cuja propaganda foi cada vez mais eficaz em contraste com a fragilização crescente dos apoiantes da monarquia.

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