Nos duzentos anos da partida da corte portuguesa para o Brasil (1807-2007)

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Na manhã do dia 27 de Novembro de 1807 o então príncipe regente e depois rei D. João VI embarcou na frota que estava surta em Belém pronta a zarpar rumo ao Brasil. Com ele seguiam umas 15 000 pessoas em que se destacavam a corte e as principais figuras da classe dirigente portuguesa desse tempo. Em Lisboa, ao assistir-se a evento com características até então nunca vistas na Europa, viveu-se um dos tempos mais dramáticos da sua história.

Os navios só conseguiram deixar a barra do Tejo em 29 de Novembro indo ao encontro de uma armada inglesa que os acompanharia na travessia do Atlântico, tendo-se assim conseguido antecipar um dia à chegada do exército francês comandado por Junot, que em 30 de Novembro começou um domínio de Lisboa que só terminaria em Agosto de 1808.

A ida da corte para o Brasil corresponde a uma retirada estratégica discutível, pois também foi vista como uma fuga, mas alcançou resultados positivos ao contrariar os interesses hegemónicos de Napoleão, que assim não conseguiu dominar nem a família real e a classe dirigente portuguesa nem apoderar-se da esquadra portuguesa.

Os acontecimentos que agora se comemoram inserem-se num dos períodos mais conturbados da história da Europa marcado pelas invasões francesas e tiveram enormes repercussões directas no Brasil, pois foi então que se criaram as condições necessárias para a proclamação da sua independência em 1822, e em Portugal para se iniciar o liberalismo em 1820.

Imagens da partida da corte de Portugal para o Brasil

Henry L’Évêque desenhou uma famosa e muito divulgada representação do embarque da família real para o Brasil na manhã do dia 27 de Novembro de 1807 que foi gravada por F. Bartollozzi. Essa imagem passou a constituir um ícone que ilustrou um momento do maior significado histórico, o qual também foi pintado por um obscuro Luís António Xavier numa aguarela menos difundida.
Para lá do conhecimento e descrição destas imagens com figurações de cenas históricas, em que se buscou transmitir propositadamente uma certa serenidade, importa procurar o simbolismo que lhes está subjacente. É de observar, nomeadamente, que em ambas se destaca ao fundo a presença da torre de Belém, um monumento que identificava obviamente a proximidade do sítio do embarque mas não deixa de suscitar a reflexão de que tal local havia sido um dos pontos de partida dos navios dos descobridores que haviam «dado novos mundo ao mundo».
Em 1807 a insólita partida do príncipe regente para o Brasil tinha um sentido estratégico imediato na luta contra a hegemonia napoleónica mas era também a busca de segurança nesse outro Portugal criado pelos portugueses passados pouco mais de trezentos anos da sua descoberta e que em breve se transformou num novo país.
 
Legendas

1.
L'EVEQUE, Henry, 1769-1832
EMBARQUE DE D. JOÃO VI PARA O BRASIL.
Gravura aberta a água forte, colorida.
37,1x51 cm
Legenda: «Departure of His R. H. the Prince Regent of Portapal for the Brazils the 27lh Novembr 1807 Pubd May 1815 for the Proprietors by Messrs bolnalghi & C.
Subs. Drawn by H. L’Eveque - Engraved by F. Bartollozzi.

PINTURAS DE LUÍS ANTÓNIO XAVIER SOBRE AS INVASÕES FRANCESAS EM LISBOA

2.
EMBARQUE EM BELÉM DO PRÍNCIPE REGENTE D. JOÃO NA SUA RETIRADA PARA O BRASIL
Aguarela grisaille
44,3x53,5 cm
Legenda: «Le Congé du Prince avant de s’embarquer le jour 27 Novembre 1807»
Lisboa, MC. PIN. 283

3.
ENTRADA DOS FRANCESES EM LISBOA
Aguarela grisaille
48,5 x 58,5 cm
Legenda: «La Veritable entrée des protecteurs en Lisbonne le 30 Novembre de 1807».
Lisboa, MC. PIN. 284

4.
JUNOT PASSA REVISTA ÀS TROPAS FRANCESAS NO ROSSIO
Aguarela grisaille
48,5 x 57 cm
Legenda: «La superbe revue des Protecteurs en Lisbonne dans la Place de la Parade»
Lisboa, MC. PIN. 282

5.
EMBARQUE NO CAIS DO SODRÉ DO GENERAL JUNOT NA SUA RETIRADA PARA FRANÇA
Aguarela grisaille
48x58 cm
Legenda: «L’embarquement du Chef des protecteurs le jour 15 Septembre 1808 a six heures du matin»
Lisboa, MC. PIN 285

Imagens do Museu da Cidade