O Almocreve

O Almocreve. Palhares lith., ca 1850,BNP.
Carroças no Cais. Seixas, Henrique Maufroy de,[ant. 1888], Cota(s):SEX000209; A12801; N10985

Ao longo do século XVI Lisboa afirmou-se como cidade metrópole e uma das mais influentes da Europa. Usufruindo de crescente importância económica e política, nela despontaram novas atividades comerciais e artesanais, desenvolveram-se artes e ofícios e fortaleceram-se redes mercantis que se estenderam também ao interior do país. Uma “peça-chave” neste cenário, que desde os tempos medievos muito contribuiu para o desenvolvimento do comércio interno - e a quem Gil Vicente dedicou uma farsa - foi o almocreve. Ofício que perdurou até ao século XX e que durante séculos assegurou o fundamental das comunicações e o transporte de bens e de novidades até aos lugares mais recônditos do país, entre cidades, vilas e aldeias.

O grande lexicógrafo do século XVIII, Rafael Bluteau, definiu-o como o “homem que conduz bestas de carga e transporte” (Rafael Bluteau, VocabularioPortuguez e Latino, vol. I, 102, 1712), confirmando a sua função basilar de estabelecer contacto e de transportar, isto numa época em que as vias de comunicação terrestres eram para além de escassas, muito precárias.

Em Lisboa, os almocreves estabeleceram-se um pouco por toda a cidade, porém foi na antiga freguesia dos Anjos que o Senado ou a tradição local lhes atribuíram uma rua, talvez reflexo do seu peso demográfico no cenário sócio-profissional, e do que representavam num espaço que apesar de fazer fronteira com as antigas portas da cidade pela Mouraria, conservava uma feição e atividades económicas predominantemente rurais, ainda orlada de hortas e quintas, para além de ser um importante centro de produção oleira. Os produtos hortículas, a fruta e os utilitários domésticos em barro eram dali conduzidos, também por almocreves, para abastecimento diário dos mercados e feiras da capital.

O almocreve especializou-se na comunicação por terra, trilhando antigas rotas terrestres de Lisboa para as terras do termo e por todo o interior do país. Andavam de terra em terra, de feira em feira, transportando e permutando todo o tipo de produtos alimentares e bens de consumo, para algum de algum conforto, não sendo de depreciar o alcance afetivo que traziam às comunidades sempre que traziam nas suas cargas a correspondência de familiares distantes.

Delminda Rijo (GEO - Núcleo de Demografia Histórica)

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