Boavista e a S. Paulo
À Boavista e a S. Paulo, espaço ribeirinho e de actividade comercial intensa, associamos o tema do trabalho.
TRABALHO FEMININO
O trabalho das mulheres negras de Lisboa foi muito representado em gravuras e pinturas da Época Moderna. Estavam por todo o lado, destacando-se em tarefas da esfera doméstica, da limpeza urbana e de venda ambulante.
Em 1552, todos os dias, andavam centenas pela cidade a vender ameixas, favas e chícharos cozidos, aletria, arroz e todo o género de alimentos.
Na limpeza doméstica da cidade, mil negras calhandreiras recolhiam os despejos das casas e lançavam-nos ao rio, não distando muito deste local os desaparecidos Caminho e Cais das Negras, à Boavista. À meia-noite, ouvia-se pelas ruas “uma corneta que junta estas gentes para que vão todas concertadas ao mar fazer esta ação”. In, Della Grandezza e Magnificenza della Città di Lisbona. Gianbattista Confalonieri, 1593.
"E digo que nesta cidade há cinquenta
mulheres, entre brancas e pretas, forras
e cativas, que em amanhecendo saem
da Ribeira com panelas grandes cheias de
arroz e cuscuz e chícharos, apregoando
[…] compram [ameixas cozidas] a estas
negras que as trazem muito limpas, com
panos lavados e muito bem cobertas."Grandeza e Abastança de Lisboa. João Brandão de Buarcos, 1552.
TRABALHO MASCULINO (SÉC. XVI)
Uma das consequências dos Descobrimentos e da saída de homens para os territórios ultramarinos foi a escassez de mão-de-obra urbana, e que foi em grande parte suprida por trabalho escravo.
A manutenção da vida urbana passou a depender dessa força, sobretudo nos trabalhos mais pesados dos cais, nas pescas e na agricultura, nos fornos de cal ribeirinhos e também ao serviço de conventos e palácios, como tão bem ilustrou um autor anónimo em 1578 "tratam de cavalos, servem de carregadores, de lavradores, de marinheiros e fazem muitos trabalhos". In, Ritratto e Riverso del Regno di Portogallo. Autor anónimo, 1578.
"Vemos no reino meter
tantos cativos crescer
E irem-se os naturais
Que, se assim for, serão mais
Eles que nós, a meu ver."Miscelânea. Garcia de Resende, 1533.