Belém e Ajuda
O Mosteiro dos Jerónimos é o exemplo mais notável da arquitetura inspirada pelos Descobrimentos e integra na sua decoração figurativa, c. de 1516, o perfil de um negro, o que testemunha não apenas o exotismo do tema mas também a crescente importância dos escravos africanos no quotidiano de Lisboa.
Há em Lisboa muitíssimos homens e marinheiros que se empregam nesta navegação para a Etiópia e é verdadeiramente extraordinária a quantidade de escravos negros e acobreados que nessa cidade existem.
Itinerarium Hispanicum Hieronymi monetarii. Hieronymus Münzer, 1494.
CENÁRIOS DO QUOTIDIANO EM BELÉM (1657 e 1756)
Em meados do século XVII, uma vendedora negra de saia vermelha foi representada a passar junto ao Mosteiro dos Jerónimos. Nesta época, já era uma figura típica de Lisboa.
A CORTE EXÓTICA DE D. MARIA I (1777)
À semelhança de outras cortes europeias em finais do século XVIII, o gosto pelo exotismo e pelo excêntrico também distinguiu a corte de D. Maria I. Vistos como raridades, numa época em que já fora abolido o tráfico de escravos para a metrópole, os escravos exóticos da rainha animaram os serões do palácio de Belém, ficando esta pequena corte imortalizada na pintura de José Conrado Rosa, de 1788.
[...] a anã preta favorita, trajando uma flamante amazona escarlate […] estava mais sentimental, encostada à porta, olhando de través e namoriscando um belo mouro.A Corte da Rainha D. Maria I. Correspondência de W. Beckford, 1901.
A AJUDA NA 2ª METADE DO SÉCULO XVIII
Após o terramoto de 1755, a freguesia da Ajuda assistiu a um grande desenvolvimento populacional, sendo igualmente marcante a presença de escravos. A exemplo disso, a casa do Conde da Ribeira, que após a destruição do palácio aos Mártires se alojou numa quinta da Junqueira, tinha na sua composição 19 dos 365 escravos que habitavam a Ajuda em 1756.