Bairro Alto e Santa Catarina

Negro servindo. Óleo s/ madeira. Anónimo, séc. XVIII (2ª metade). Museu de Artes Decorativas Portuguesas



A gradual integração social e religiosa permitiu alguma autonomia de circulação da população escrava, o que propiciou o estreitamento de relações interpessoais para além do círculo do senhor e da vizinhança. Circunstância que propiciou, por vezes sem a anuência dos respetivos proprietários, a realização de casamentos, e não só entre “irmãos” de cativeiro, mas também com a população livre.


[...] mandados para la de contra vontade do dito senhor Vasco Ribeiro de Castelo Branco e da senhora Dona Branca sua mulher. Os quais fizeram seus protestos que lhes não davam licença nem consentiam que os ditos seus escravos se casassem nem os libertavam para isso [...].

Arquivo Distrital de Lisboa, Registos Paroquiais, Paróquia de Santiago, Livro I casamentos, 18 de maio de 1593


Por toda a cidade os cativos coabitavam com os amos ou possuíam as suas próprias casas. Com base em fontes históricas reconhecemos que na antiga freguesia de Santa Catarina, só no ano de 1672, viviam na casa dos seus senhores, pelo menos 180 escravos. Por exemplo, perto do atual Miradouro do Adamastor, doze escravas serviam no desaparecido palácio do Conde de S. Lourenço. Mas neste mesmo bairro apenas 32 cativos viviam em casa própria, ou a partilhavam com outras pessoas.

Entre a população negra que viveu no Bairro Alto entre meados do séc. XVI e meados do século XVIII os seus principais locais de origem, respeitando as designações encontradas nos documentos, foram as ilhas de S. Tomé e Príncipe, o Brasil, a Mina, a Guiné, o Congo, Angola, Cabo Verde, Mombaça e Moçambique. Contudo, nos finais do séc. XVII já a maior parte da população cativa que identificámos era composta por afro descendentes.

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