Fontes e Chafarizes Monumentais (desaparecidos) de Lisboa

Estampa da obra “Parabens à cidade de Lisboa, das obras senatorias feytas, e por fazer”.Tomás Pinto Brandão. 1729
Pormenor azulejo Hospital Real de Todos os Santos. Mestre P.M.P. Inícios séc. XVIII. Museu de Lisboa, Palácio Pimenta

A ampla praça do Rossio, monumentalizada e embelezada a partir do século XV com a construção do palácio dos Estaús (1449) no topo norte e do hospital real de Todos os Santos (1492) na cerca do convento de São Domingos (1242), ganharia maior fausto após a construção do chafariz de Neptuno.

Os planos manuelinos de melhoramento do abastecimento e qualidade de águas da capital que intervencionaram chafarizes, fontes e canos de condução e de escoamento, onde se incluíram importantes estruturas da cidade como o chafariz del Rei e a fonte de Cata-que-Farás (Cais do Sodré), procuraram também solucionar o problema de escassez de água que constantemente afetava o velho chafariz do Rossio, então localizado perto da Praça da Palha (atual entrada norte da Rua Augusta). Desconhece-se o aspeto estético desta fonte, mas não seria admirável pois em 1518 foram pensadas não só a condução de águas encanadas a partir do chafariz do Andaluz, em São Sebastião da Pedreira (1522), como a própria monumentalização da fonte. Mas vicissitudes várias impediram o avanço do projeto, acabando com o passar dos anos por cair no esquecimento.

Já próximo do fim do século XVI, a ideia ressurgiu com Francisco de Holanda na obra “Da Fabrica que Falece à Cidade de Lisboa”, ressalvando o autor a importância desta construção numa praça que se pretendia monumental. Tal intento não se realizou e o amplo recinto só viria a beneficiar de um chafariz mais imponente em 1605, provavelmente pelo traço do arquitecto Nicolau de Frias.

O chafariz de Neptuno, assim designado devido à estátua que o encimava, era abastecido pelas águas de um poço localizado na Bemposta e que eram conduzidas até ao Rossio através de um aqueduto.

Segundo as panorâmicas e plantas da época, a sua localização seria entre o lado mais oriental do palácio da Inquisição e o adro do convento de S. Domingos e era composto por uma plataforma onde assentavam dois tanques térreos e uma taça circular elevada para a qual vertiam quatro bicas decoradas, insertas numa coluna que era rematada com a escultura em pedra de Neptuno.

Durante cerca de 180 anos o chafariz de Neptuno enfeitou e serviu o Rossio "matando a sede” à população, protagonizou descaminhos que levaram infratores à prisão, motivou desacatos entre aguadeiros e foi ponto de encontro de muitos lisboetas e forasteiros. Em 1755, apesar dos fortes abalos do terramoto manteve-se de pé, mas acabou por não resistir aos tempos conturbados que se seguiram, perdendo a importância de outrora. Foi excluído dos planos de reconstrução da grande praça e demolido em 1786.

Mais de um século transcorrido, no seu lugar e com objetivos meramente ornamentais que fazem juz à sua grandeza, foram colocadas sobre os poços do Rossio as duas belas fontes em ferro fundido, num conjunto que só ficaria completo c. de 1890 após a instalação da célebre fonte dos anjinhos.

 

FONTES

http://legislacaoregia.parlamento.pt

GONÇALVES, Luís Ribeiro, "sistemas de circulação de água e poder na Lisboa medieval - séculos XIV e XV" Cadernos do Arquivo, Arquivo Municipal de Lisboa, n. 8, 2017.

PEREIRA, Cristóvão Valente, "Três Chafarizes de Lisboa", Revista Rossio. Estudos de Lisboa, n. 2, 2013.

SERAFIM, Paula Leal, "A dinâmica da condução e distribuição de águas à cidade de Lisboa: a vontade régia e o empenho municipal", Cadernos do Arquivo, Arquivo Municipal de Lisboa, n. 9, 2007.

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