Vasco da Gama quinhentos anos depois da sua morte

Representação da armada da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia (1497-1499) na Memória das armadas, ca. 1567. Academia das Ciências de Lisboa.
Retrato de Vasco da Gama por Gaspar Correia nas Lendas da Índia, volume II, meados do século XVI (pós-1547). Torre do Tombo, Lisboa.
Retrato de Vasco da Gama no chamado Livro de Lisuarte de Abreu (ca. 1563), Pierpont Morgan Library, Nova Iorque.

Vasco da Gama, terceiro filho de Estêvão da Gama, alcaide de Sines, e de Isabel Sodré, morreu em Cochim na noite de 24 de dezembro de 1524 com 58 anos, o que permite afirmar que nasceu em 1466, em Sines. A indicação dessa idade foi registada em 1599 por Diogo do Couto no seu Tratado dos Gamas, sendo a fonte mais antiga e rigorosa a indicá-la.

D. Manuel I conhecia os méritos de chefia e tenacidade de Vasco da Gama tendo-o por isso nomeado em 1497 para capitão‑mor da armada que tinha a difícil missão de descobrir o caminho marítimo para a Índia e iniciar assim as relações entre Portugal e esse território. Desta forma concluía-se um processo que se havia iniciado no tempo do infante D. Henrique.

Vasco da Gama partiu de Lisboa em 8 de julho de 1497 com 4 navios e cerca de 155 homens. Depois de ele ter dobrado o cabo da boa Esperança percorreu a costa oriental de África até que finalmente conseguiu chegar à Índia em 18 de maio de 1498.

Tendo realizado plenamente a sua missão com grande coragem e superando inúmeras dificuldades, Vasco da Gama regressou a Lisboa, talvez no início de setembro de 1499, recebendo de seguida grandes recompensas de entre as quais se destacaram o cargo de almirante da Índia, o título de Dom e 300 000 réis de renda anual.

Em 1502, Vasco da Gama partiu de novo para a Índia chefiando uma poderosa armada.

Inicialmente Vasco da Gama pertenceu à Ordem de Santiago, mas em 1507 passou para a Ordem de Cristo, numa altura em que as suas relações com D. Manuel I se haviam deteriorado porque este não lhe concedeu o prometido senhorio de Sines. Tais relações só melhoraram depois de, em 1519, Vasco da Gama ter comprado as vilas da Vidigueira e de Frades, de forma a poder receber em 29 de dezembro desse ano o título de conde da Vidigueira.

Um facto, pouco conhecido e de grande importância, é o de Vasco da Gama ter vivido em Lisboa, junto ao Chafariz del-rei, conforme referido na procuração de 22 de março de 1518 onde se leem as seguintes palavras:

"...na cidade de Lisboa, ao chafariz del-rei, nas casas da morada do senhor almirante Dom Vasco da Gama."

Em 25 de fevereiro de 1524, D. João III nomeou Vasco da Gama para o honroso cargo de vice-rei do Estado da Índia, coroando assim a sua carreira. Desta forma o referido monarca recuperava o serviço de uma figura iminente, depositando nele a esperança de que na Índia o prestigiado fidalgo pudesse realizar um conjunto de reformas que moralizassem a ação dos portugueses no Oriente.

O almirante partiu em 9 de abril de 1524 para a Índia, onde chegou em 11 de setembro deste ano tendo começado a desempenhar o seu cargo com grande autoridade. Contudo, adoeceu e morreu em Cochim, passados pouco mais de três meses da sua chegada.

Acabava assim na Índia aquele que vinte e cinco anos antes iniciara uma nova era nas relações entre o Ocidente e o Oriente.

Como era Vasco da Gama?
Para visualizarmos Vasco da Gama a melhor imagem que dele temos é o retrato traçado em 1547 por Gaspar Correia. Este autor ao ter feito de memória tal retrato afirmou que era fidedigno, o que é credível tendo em conta que ele conheceu Vasco da Gama em 1524, antes deste ter morrido.

Essa representação encontra-se no segundo volume das suas Lendas da Índia, que se conserva na Torre do Tombo.

Cerca de 1563, no códice apelidado de Livro de Lisuarte de Abreu, um pintor indiano copiou o quadro que foi feito em 1547 para o Palácio dos Governadores em Goa com o retrato de Vasco da Gama cujo original foi traçado por Gaspar Correia.

Todas as restantes imagens que se têm atribuído à representação de Vasco da Gama são fantasiosas.

 

José Manuel Garcia

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