Vasco da Gama quinhentos anos depois da sua morte
Vasco da Gama, terceiro filho de Estêvão da Gama, alcaide de Sines, e de Isabel Sodré, morreu em Cochim na noite de 24 de dezembro de 1524 com 58 anos, o que permite afirmar que nasceu em 1466, em Sines. A indicação dessa idade foi registada em 1599 por Diogo do Couto no seu Tratado dos Gamas, sendo a fonte mais antiga e rigorosa a indicá-la.
D. Manuel I conhecia os méritos de chefia e tenacidade de Vasco da Gama tendo-o por isso nomeado em 1497 para capitão‑mor da armada que tinha a difícil missão de descobrir o caminho marítimo para a Índia e iniciar assim as relações entre Portugal e esse território. Desta forma concluía-se um processo que se havia iniciado no tempo do infante D. Henrique.
Vasco da Gama partiu de Lisboa em 8 de julho de 1497 com 4 navios e cerca de 155 homens. Depois de ele ter dobrado o cabo da boa Esperança percorreu a costa oriental de África até que finalmente conseguiu chegar à Índia em 18 de maio de 1498.
Tendo realizado plenamente a sua missão com grande coragem e superando inúmeras dificuldades, Vasco da Gama regressou a Lisboa, talvez no início de setembro de 1499, recebendo de seguida grandes recompensas de entre as quais se destacaram o cargo de almirante da Índia, o título de Dom e 300 000 réis de renda anual.
Em 1502, Vasco da Gama partiu de novo para a Índia chefiando uma poderosa armada.
Inicialmente Vasco da Gama pertenceu à Ordem de Santiago, mas em 1507 passou para a Ordem de Cristo, numa altura em que as suas relações com D. Manuel I se haviam deteriorado porque este não lhe concedeu o prometido senhorio de Sines. Tais relações só melhoraram depois de, em 1519, Vasco da Gama ter comprado as vilas da Vidigueira e de Frades, de forma a poder receber em 29 de dezembro desse ano o título de conde da Vidigueira.
Um facto, pouco conhecido e de grande importância, é o de Vasco da Gama ter vivido em Lisboa, junto ao Chafariz del-rei, conforme referido na procuração de 22 de março de 1518 onde se leem as seguintes palavras:
"...na cidade de Lisboa, ao chafariz del-rei, nas casas da morada do senhor almirante Dom Vasco da Gama."
Em 25 de fevereiro de 1524, D. João III nomeou Vasco da Gama para o honroso cargo de vice-rei do Estado da Índia, coroando assim a sua carreira. Desta forma o referido monarca recuperava o serviço de uma figura iminente, depositando nele a esperança de que na Índia o prestigiado fidalgo pudesse realizar um conjunto de reformas que moralizassem a ação dos portugueses no Oriente.
O almirante partiu em 9 de abril de 1524 para a Índia, onde chegou em 11 de setembro deste ano tendo começado a desempenhar o seu cargo com grande autoridade. Contudo, adoeceu e morreu em Cochim, passados pouco mais de três meses da sua chegada.
Acabava assim na Índia aquele que vinte e cinco anos antes iniciara uma nova era nas relações entre o Ocidente e o Oriente.
Como era Vasco da Gama?
Para visualizarmos Vasco da Gama a melhor imagem que dele temos é o retrato traçado em 1547 por Gaspar Correia. Este autor ao ter feito de memória tal retrato afirmou que era fidedigno, o que é credível tendo em conta que ele conheceu Vasco da Gama em 1524, antes deste ter morrido.
Essa representação encontra-se no segundo volume das suas Lendas da Índia, que se conserva na Torre do Tombo.
Cerca de 1563, no códice apelidado de Livro de Lisuarte de Abreu, um pintor indiano copiou o quadro que foi feito em 1547 para o Palácio dos Governadores em Goa com o retrato de Vasco da Gama cujo original foi traçado por Gaspar Correia.
Todas as restantes imagens que se têm atribuído à representação de Vasco da Gama são fantasiosas.
José Manuel Garcia