Ferragens e Ferramentas da Baixa e do Chiado

São 9 lojas de 8 firmas com 38 pessoas ao serviço. Destas 8 empresas uma data de 1836, três de 1921 ou 1922, duas de 1946 ou 1948, outra de 1970 e a mais recente de 2011. Cinco mantêm-se na mesma família sendo que três são em 3ª geração e duas em 2ª geração. Duas delas com 90 ou mais anos, mudaram de proprietários nos anos 1990. Todas elas fizeram alguma remodelação nos anos 80 e 90 para o auto-serviço e para a oferta de ferramentas eléctricas, uma novidade na época. Até aí a loja de ferragens tipo era um armazém comprido, com uma balança e as paredes todas revestidas de caixas em madeira, das quais pendia como amostra a respectiva peça. Hoje só uma é que ainda  se mostra assim, a Silmosi, as outras alteraram essa apresentação, senão na íntegra pelo menos parcialmente.  Da venda à peça ou a granel passou simultaneamente a vender-se ferragens empacotadas, nomeadamente as mais correntes – pregos, parafusos etc. Depois estas casas foram agregando uma série de ferramentas de diversas ofícios, para além das ferragens – jardinagem, artigos eléctricos, pintura, colas sempre dentro das utilidades e do apoio à “bricolagem”,isto é, a reparação e remodelação por amadores. Mas nunca os profissionais das diversas áreas - canalização, serralharia, construção, marcenaria, etc. foram esquecidos. Duas destas firmas e sempre na oferta do que é útil vão até oferecerem, artigos para a vinicultura, fornos e assadores, aquecedores nas versões de fogão de sala ou salamandras, o que dá a alguns destes estabelecimentos uma tipicidade própria. Outras duas empresas especializaram-se mais nas ferragens para portas e móveis, tornando-se em casas de referência neste nicho de mercado. Três outras são especializadas em ferramentas eléctricas, o topo deste ramo de comércio, outras duas são declaradamente generalistas, mas quase todas elas têm o fabrico de chaves, aquilo que leva mais gente a procura-las na emergência de entrar em casa. Alguns aventuram-se na oferta de peças em ferro fundido, latão, cobre ou estanho que não só lhes dá um brilho próprio como uma atracção para turistas. Mas no geral as montras e exposições das casas de ferragens e ferramentas são austeras e frias, “cheias e feias”, de coisas práticas, fortes e muitas vezes pesadas. Mundo de ferramentas: atractivas para os homens, não tanto para as senhoras… 

Negócio de minudências e de pequeno retalho, com miríades de referências que se  desdobram em tamanhos múltiplos, especificações várias, dão-lhe similitudes com o negócio das retrosarias: muitas existências, variadas aplicações, longa procura, pequenas quantidades vendidas, pequenos valores cobrados! Negócio que exige tanto de conhecimento vasto quanto de onde se arrumam, o que leva a D.Maria Isabel Martins da Silmosi a dizer que «O jeito do empregado de balcão é diferente do empregado de armazém: o de balcão olha para a peça, o parafuso, p.ex., calcula as dimensões e vai à procura. O empregado de armazém não é capaz disso, pois nunca vê as peças, só as caixas fechadas que arruma por etiquetas!». Donde que este saber leve anos a conseguir, mais a transmitir aos novos e talvez por isso estas empresas se mantenham por gerações na mesma família! Mas catálogos e existências que se mantêm anos e anos, acrescentando sempre mais do que aquilo que vai desaparecendo, como as ferramentas manuais hoje largamente substituídas pelas suas congéneres eléctricas. Se 8 destes 9 estabelecimentos estão concentrados na Baixa poente – R.Fanqueiros, R.Madalena, Poço do Borratém, mais existem na R. Boavista e no Conde Barão, tradicionalmente zonas deste tipo de comércio de máquinas e ferramentas. São estabelecimentos de espaço diminuto a médio – pois os grandes armazéns, as grandes firmas foram fechando ao longo do último quartel do século XX acompanhando a desindustrialização da capital: JB Fernandes; Senna, Botto & Leitão; Horácio Alves; Rocha, Amado e Latino Lda.  (R.Prata e R.Nª Almada S.Francisco); Teixeira Lopes & Neves; Francisco José Simões, J.Pinto Coelho (na Boa Hora), Sociedade Aços e Metais.

Guilherme Pereira

Levantamento das Lojas de Ferragens e Ferramentas da Baixa e Chiado (descarregar PDF)

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