Casas de Electrodomésticos da Baixa e do Chiado

Este ramo de comércio, e das indústrias que a abastecem, reflecte mais que nenhum outro, o progresso tecnológico dos últimos 120 anos, tocando praticamente todos os aspectos da vida quotidiana. Recordamos aqui alguns dos objectos que foram entrando nas nossas vidas, geração após geração, tornando-se indispensáveis e familiares. Os fogões a lenha e carvão em ferro fundido e de múltiplos usos - tanto aqueciam água, como tinham várias chapas e forno para assados - foram utilizados até às  décadas 20/30 do século XX e só depois começaram os fogões a gás, estes associados à expansão de rede de gás em Lisboa, o que  foi afastando progressivamente os fogareiros a petróleo. O frigorífico a gás inventado na Suécia, é produzido em série a partir de 1923 e comercializado no mundo inteiro pela Electrolux. Já o congelador começa a ser vendido na Europa nos anos 1960. A máquina de lavar roupa de tambor e centrifugação, difunde-se nos anos 1950 e populariza-se a partir dos anos 1960. O microndas foi aperfeiçoado em 1975, mas a sua utilização em Portugal massificou-se já na década de 90. A máquina de lavar loiça popularizou-se a partir dos anos 1980. Já os secadores de roupa eléctricos tiveram como antecessor os rolos compressores movidos manualmente! A missão de barbear é confiada à máquina eléctrica de cabeças rotativas das marcas Philips e Remington a partir dos anos 1950. Como o Sr. Fernando Caldeira da Roldão & Caldeira Lda. recorda: «Na área do pequeno comércio especializado, acessórios e vidros para fogões e candeeiros, onde estou inserido e resisto há 80 anos, recordo com alguma nostalgia o desaparecimento da Casa Hipólito de Torres Vedras, fabricante de fogareiros a petróleo, lanternas e mais tarde associado a nós, o seu principal distribuidor, Roldão & Caldeira Lda., lança em Portugal, o primeiro fogareiro a gás da marca Lusogás. O seu principal administrador Vasco Parreira, e seus cunhados, tiveram um papel decisivo nessa fábrica com uma componente exportadora de relevo, que infelizmente desapareceu. Vasco Parreira foi igualmente, importante na fábrica Fundição de Oeiras, que produzia os chamados fogões a gás da marca Portugal, talvez os primeiros com forno. Era a época dos contratos que eram feitos no comércio com a Companhia do Gás, uma forma de angariar clientela para o novo produto de gás canalizado. Por fim e a propósito da TV a cores, a primeira a ser fabricada em Portugal pela Standard com as marcas National e ITT».Também
os receptores de TV Salora com fabrico no concelho de Oeiras, bem como os televisores Grundig são alguns dos artigos mais popularizados em Lisboa. 
 

Mas antes destes já outras marcas de rádios se tinham popularizado nos lares lisboetas nos anos 20 a 40, para a escuta duma rede de pequenas rádios locais que acabariam por se fundir nos Emissores Associados de Lisboa. Porventura o início deste ramo de electrodomésticos terá tido inicio na comercialização de aparelhos de T.S.F., como então se chamavam os rádios no início do século passado, nas lojas que os comercializavam, comércio de vanguarda na altura, das quais subsistiu uma na R. da Vitória até ao início do presente século, a Rádio Vitória. A passagem desta firma dos rádios para os electrodomésticos e destes para os candeeiros e iluminação é exemplificativo do percurso comercial e técnico de alguns destes estabelecimentos na cidade de Lisboa.

A actualidade e renovação deste ramo de actividade, comercial e industrial, dá-se tanto pela invenção de inúmeros artigos respondendo às mais diversas necessidades - depilação, secagem ou frisagem de cabelo, torra de pão, grelhar, cortar alimentos, fazer pão em casa, etc. etc. - como pelas sucessivas fases de modernização e apuramento técnico ou economia energética que esses mesmos aparelhos vêm proporcionando: a aparelhagem áudio, depois na versão alta-fidelidade; a televisão, emitida a partir de 1956, tem uma primeira época a preto e branco seguida de emissões a cores a partir dos anos 1980 até ao televisor em ecrã plano, os plasmas, de hoje; do telefone com fio, ao telefone sem fio e depois aos telemóveis; do videogravador à câmara de filmar, seguido da câmara digital, depois incorporado no telemóvel; aquecedor, ventoinha, ar condicionado. É um ramo que por si só simboliza o progresso técnico, o útil e o agradável no dia-a-dia, pelo que é popular em todos os sectores da sociedade e procurado em muitos momentos da vida.

Apresentamos aqui as duas casas de electrodomésticos da Baixa que restam das muitas que na Baixa e no Chiado existiram ao longo do século XX. Foram autênticos mostruários de modernidade, conforto e progresso. Hoje este tipo de artigos, como muitos outros, tende a confinar-se às grandes superfícies, a generalizar-se por muitos outros comércios, pelo que a permanência da Brilhipotencia e da Loja Sol, no conjunto com os seus 10 colaboradores, são tanto mais de destacar. 

G.P.

Inventário das Casas de Electrodomésticos da Baixa e do Chiado (descarregar PDF

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