A primeira judiaria de Lisboa

 

A comunidade judaica de Lisboa foi a mais importante do reino português. A mais antiga judiaria da cidade situava-se no coração do seu núcleo comercial, no arrabalde ocidental, entre a Correaria e a Ribeira.

O primeiro documento que nos situa espacialmente a comunidade judaica lisboeta é um interessante contrato de compra e venda, realizado em Julho de 1205, onde vários cristãos da família Gonçalves venderam umas casas a um Mendo Gomes e sua esposa Maria Eanes, situadas na “Aljazaria dos judeus”. A palavra aljazaria originou algumas propostas, relacionadas com os vários sentidos que ecoam da sua etimologia árabe. Actualmente, é consensual que o seu sentido, na documentação medieval portuguesa, se referia a uma estrutura urbana para tratamento da carne ou abate de animais, ou seja, carniçarias ou um matadouro, visto que a sua etimologia provém do verbo árabe “jazr”, que significa matar. Este significado confirma-se nas referências documentais relativas às aljazarias de Coimbra, que correspondiam a carniçarias ou a um matadouro. Além disso, o Foral de Setúbal de 1249 também apresenta uma referência a aljazarias que aponta para o mesmo sentido. O documento de 1205 situa as ditas carniçarias/matadouro na freguesia lisboeta da Madalena, local exacto onde iremos encontrar a chamada Judiaria Velha ou Grande, na documentação posterior. A segregação espacial, ou seja, a obrigação dos judeus viverem num espaço próprio apenas ocorreu, no reino português, desde meados do século XIV, no reinado de D. Pedro. Até aí os judeus agregavam-se em determinadas áreas das cidades por sua própria vontade. A documentação medieval lisboeta indica-nos que a Judiaria Velha foi de facto, tal como o nome indica, a primeira e mais antiga da cidade, tendo origem não num gueto segregado, mas numa escolha dos judeus em habitarem junto ao centro económico da cidade.

Durante o reinado de D. Dinis, Lisboa teve uma nova judiaria, a Judiaria das Tercenas, planeada e erguida pelo monarca e teve também um núcleo habitacional de judeus na zona da Pedreira, que teve uma existência muito breve, pois as propriedades régias foram cedidas pelo rei ao Almirante Pessanha. Mais tarde, talvez durante o reinado de D. Pedro ou no final do reinado de Afonso IV, surgiu a judiaria de Alfama, situada no referido bairro oriental da cidade, numa rua que ainda hoje guarda a sua memória.

 Manuel Fialho

BIBLIOGRAFIA:

Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Mosteiro de Chelas, Maço VII, nº 142.

SILVA, Manuel Fialho, "Morfologias urbanas na Lisboa Medieval: o caso das judiarias", in Inclusão e Exclusão na Europa Urbana Medieval, IEM/Câmara Municipal de Castelo de Vide, 2019, pp. 289-306.

As Judiarias de Lisboa (c.1325) – Manuel Fialho
Símbolo de acessibilidade à Web

Site optimizado para Firefox 2.0.0.10, IE 7.0 e IE 6.0
Todos os conteúdos deste site são propriedade da CML ou das entidades neles identificadas.
Utilização sujeita a autorização da Câmara Municipal de Lisboa · © 2007
Desenvolvido por CML/DMAGI/DNT