Lojas de Vestidos de Noiva e de Cerimónia da Baixa e do Chiado
Recensear as lojas de vestidos de noiva(o) e de cerimónia na Baixa e no Chiado obriga-nos a pensar no fenómeno que as alimenta: o casamento. E se fizermos um exercício mais aturado percebemos que o “casamento” nas sociedades contemporâneas tem vindo não só a alterar-se, como, também, a abrir espaço a novas formas de conjugalidade. S. Aboim aponta esta nova tendência como a “informalização das famílias", onde a coabitação, ou a monoparentalidade têm vindo a ganhar expressão, desembaraçando-se, assim, do estigma de que foram alvo noutros tempos. Apesar dos indicadores sócio-demográficos (INE) nos revelarem uma descida, de forma mais acentuada desde 1990 a esta parte, da taxa de nupcialidade e uma subida do número de divórcios e de nos mostrarem que a idade, em média, para casar tem vindo a aumentar gradualmente. Em dezoito anos - 1990 para 2008 - o casamento foi adiado, em média, cerca de quatro anos, ou seja, dos 26 anos deles e dos 24 delas passou-se para os 30 e 28 anos, respectivamente. Ainda assim A. Torres, R. Mendes e T. Lapa em Famílias na Europa apontam Portugal como um dos países onde a percentagem de casados é maior, cerca de 65%.
Ora, se continuamos a ter quem case continuar-se-ão a vender vestidos de noiva(o) e afins. Mas estas lojas, apesar de diferentes entre si, mostraram unanimidade e sublinharam precisamente esse desafio: “Mudou muito, mudou tudo, mudou a mulher em si, (…) a personalidade da mulher, a mulher na sociedade (…)” as palavras, proferidas por uma das vendedoras das lojas do grupo Maria Karin New York, Dona Noivas, Dona Noivas2 e Hollywood e corroboradas pela Srª Alegria Costa, resumem esta preocupação constante de ir ao encontro destes novos ensejos. Esse eco traduz-se e é visível em novas propostas (design, cor, materiais, etc.), que por sua vez tem, também, promovido novas tendências. E é neste sentido que podemos considerar as montras, geralmente generosas e vistosas, como responsáveis e co-responsáveis da moda. E se já sabemos que as montras são sempre um dos primeiros cartões de visita da loja e do produto, talvez aqui sejam ainda mais; porque muitas vezes depois de entrar, há todo um pré-ritual que nos leva a crer estarmos na antestreia do “grande dia”.
Mas não podemos avançar sem sumariar essas mudanças. A tónica vai para o vestido de noiva branco que deu lugar ao bege, creme ou ao pérola; nos materiais o duchesse e as rendas têm cedido o protagonismo aos toules, ao chiffon ou à organza e nas técnicas o drapeado já conquistou o seu lugar. As noivas que dantes se faziam acompanhar, sobretudo, pelas madrinhas, muitas vezes trazem antes as amigas, tal como a flor de laranjeira (citrus x sinensis), símbolo da pureza e da virgindade, lhes parece soar a lenda.
Outro apontamento que merece registo é que das oito casas recenseadas só uma se distancia do “quarteirão das noivas” - rua da Prata / rua da Assunção - como popularmente é cunhado; referimo-nos à Bluetranche na rua do Alecrim. Pois tanto o grupo acima mencionado, como a Coquete, o Figurino da Noiva e a J. Rodrigues Paulo, também, se encontram aí.
Ficou também uma recomendação generalizada “preparar as coisas com antecedência”, porque desengane-se quem pensa que o vestido aparece à velocidade com que apareceu o vestido de baile da Gata Borralheira na história dos irmãos Grimm. Um vestido de noiva demora, em média, entre um a três meses a ser confeccionado, “e mesmo que assim não seja, precisa quase sempre de pequenos ajustes”. Portanto, estamos em condições de chamar a estas lojas um catálogo vivo, de exuberância; sofisticação; simplicidade ou discrição. Quanto ao atendimento aos que querem casar, ou aos que estão envolvidos na cerimónia podem esperar-se os conselhos valiosos desses profissionais.
Judite Lourenço Reis com a colaboração de Alexandra Diniz, Angélica Pereira e Isabel Franco (ISCTE-IUL)
Levantamento das Lojas de Vestidos de Noiva e de Cerimónia da Baixa e do Chiado (descarregar PDF)