Lojas de Carteiras, Malas, Pastas e Artigos de Pele da Baixa e Chiado

Quase uma vintena de casas, mais na Baixa do que no Chiado. Na maioria, negócios familiares que têm marcado o gosto das portuguesas ao longo de várias décadas. As peles, ontem mais que hoje, faziam as delícias das senhoras que gostavam de ter as malas da moda, o modelo mais badalado da season. Aliás, algumas lojas até foram baptizadas com o nome dos países de onde as peles eram originárias, como por exemplo a Casa Canadá e a Casa Sibéria, que ainda hoje são uma referência. Em relação às peles exóticas - crocodilo, cobra, jibóia, foca - há que recordar a sua proibição desde os anos 80 do séc. XX, resposta ao apelo das campanhas encabeçadas pela Greenpeace, e o consequente ponto de viragem deste mercado. Hoje usam-se as respectivas réplicas em sintético e muita fantasia; a procura ampliou-se e alterou-se, podemos mesmo dizer que esta indústria se reinventou, não só porque diminuiu a procura da pele verdadeira, mas também porque chamou a si novas matérias-primas, tal como aumentou o tamanho das malas. Ora as lojas observaram essas mudanças e passaram a dispor de sacos de grandes dimensões para satisfazer o gosto das novas gerações. As cores, mais garridas como os azuis e os laranjas têm vindo a ganhar relevo, mas os tons suaves e os modelos clássicos também estão presentes, afinal acabam por  ser intemporais. As pequenas malas de mão para senhora, feitas em pele ou materiais menos nobres como as ráfias ou palhinha, mais usadas no Verão, perderam algum protagonismo, embora ainda se encontrem nos expositores para quem as procure; todavia são diferentes: maiores, mais práticas e talvez mais requintadas, a traduzir um estilo de vida mais urbano. Quanto ao público masculino, compra mais pastas, carteiras, porta-moedas, porta-chaves, cigarreiras, estojo de óculos ou de telemóvel, peças que são geralmente oferecidas pelo Natal e Aniversário.

Neste périplo, outras novidades encherem os olhos de surpresa: malas em formato de ouriço-cacheiro, caracol, arca de Noé, etc.. Mas o fim do século XX., tónica para o pós Expo`98, e o principiar deste século assistiu à introdução de um novo material nas lides da Moda: a cortiça, esta tem vindo a dar forma a muitos artigos, nomeadamente as malas. Estrelato que parece ter vindo a intensificar-se desde 2010, em parte mercê da escolha que o Sr. Presidente dos Estados Unidos da América (Barack Obama) fez para presentear a família aquando da sua visita a Portugal.  

Com uma decoração clássica e de cores suaves, estes espaços, pequenos ou grandes, convidam o cliente a entrar. Já dentro, os anfitriães, tendencialmente mulheres, sugerem, orientam e conquistam com a sua simpatia; uma, duas, e até cinco pessoas por loja que estão prontas a prestar todo o auxílio necessário.  Neste sector, à semelhança das sapatarias, muitas destas firmas optaram por trabalhar só com artigos para senhora. Numas ou noutras, oferecem também as malas de viagem - que têm mais procura na Primavera-Verão, quer por residentes, quer por visitantes, estes últimos por reconhecerem a qualidade da indústria nacional, daí elegerem uma pasta ou mala para levarem consigo.

A indústria de malas, pastas e carteiras foi numerosa durante décadas, tendo existido duas fábricas na rua dos Fanqueiros, a de Lit Choon e a do sr. Brás, que chegou a fazer umas malas tipo “cigarreira” - quadradas, tipo caixa com luz interior para as senhoras poderem encontrar, no cinema ou no escuro, o que procuravam.  Um parêntesis para uma breve homenagem a um homem septuagenário que dedicou a sua vida a este mester - Afonso Lit Choon, filho de emigrantes chineses, abriu a 1ª fábrica nos anos 60 (séc. XX), dando sempre primazia às peles nacionais e acrescentando-lhes a sua chancela, garantia  de qualidade para os demais. Actualmente são as filhas que gerem o negócio, embora o patriarca se mantenha presente através da execução de pequenos arranjos. Mas apesar de ainda existirem algumas na zona de Lisboa, é Alcanena que concentra a indústria de curtumes - peles de vaca, cabra e javali. Ênfase também para o norte do país, sobretudo a região de Braga, que ainda emprega alguns núcleos familiares.

Uma marca nacional reputada em malas de viagem, a Modarte, encerrou a sua linha de fabrico devido à Samsonite, que conquistou o mercado com modelos rígidos em alumínio ou plastificados resistentes ao choque: as malas de cartão - ou as malas moles em pele e napa, ficaram na história. Já mais recentemente, nos últimos 10 a 15 anos, vulgarizou-se um modelo que é conhecido por “trolley”: um saco grande ou mala com dois rodízios que é puxado ao alto, por um cabo extensível. É o verdadeiro “ovo de Colombo” em matéria de economia de esforço, que rapidamente se estendeu a todos os usos e fins, desde o saco das compras à mochila escolar!

Guilherme Pereira, Constança de Castro e Judite Lourenço Reis

Levantamento das Lojas de Carteiras e Malas da Baixa e Chiado (Descarregar PDF

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