Casas de Artigos de Pesca da Baixa e do Chiado
Hoje são 2 as lojas de artigos de pesca situadas na R.dos Remolares ao Cais do Sodré. Vendem artigos para a pesca: canas, linhas, anzóis, amostras, carretos e todos os demais acessórios, quer para agua doce, como água salgada, embarcada, ou apeada, o que implica uma variedade enorme de detalhes e milhares de peças disponíveis. A apresentação destas casas é tipicamente analitica e sistemática: por secções bem especificas em que cada uma expõe os seus múltiplos variantes, sendo as mais atractivas as amostras – figurações de peixes – e os carretos, sofisticadas máquinas-ferramentas em pequena escala. Tipicamente masculina, pela cana e pela pesca como actividade de ar livre ancestral, é-o também pelo instrumental, pela montagem, pela expectativa paciente e atenta do pescador. É maioritariamente a pesca desportiva a que atrai ali o maior numero de clientes: são os amantes da pesca que ali vão amiúde para conversar, ver, comparar, “namorar “ as peças e acessórios antes de se decidirem a adquiri-las. Como lazer que é, estes locais são os seus locais de culto e de contar histórias e eventos – “umas mais reais do que outras” como dirá um pescador ou caçador mais avisado! Mas é sobretudo a troca de informações sobre os materiais e partilha de experiências de pesca, reforçado com o facto de os 3 profissionais que atendem terem experiência de muitos anos e serem eles mesmos praticantes de pesca. A conversa faz aqui tanto parte do negócio como da permuta de vivências pelo que os que atendem fazem-no com gosto, conhecimento de causa e não só como vendedores comerciais. Os que ali acorrem vão por necessidade relativa ao ócio que praticam nas horas vagas, pois a pesca desportiva, oferece mais de bons momentos do que peixe suplementar para casa. “Ajudar a enganar o peixe e nunca enganar o cliente” pode ser o lema destas casas que exercem uma enorme atracção para os seus clientes e precisam de se aviar em terra para irem bem apetrechados para o mar! Aconselhar os experientes e dar as primeiras noções a quem se inicia: ter cuidado com o mar, como aparelhar, como empatar os anzóis, etc. etc. e depois cada um descobrirá a sua sensibilidade pela experiência.
A cana de pesca parece-se um pouco com um instrumento de musica em que os diversos componentes têm de estar afinados para toda a ela funcionar bem e a pesca ser proveitosa. Donde que a mestria do praticante tem de estar tanto na montagem da cana e no iscar, como na escolha do local, do momento, no sentir o peixe pelos movimentos da linha… toda uma arte tão subtil como musica! «A bóia e o seu movimento dão o sinal, o modo como o peixe mexe identifica que peixe é pois cada espécie tem um comportamento próprio» e os mais pescados são a tainha, o robalo, o sargo, a dourada, a corvina, etc..
Mas a pesca proporciona também um bem-estar psicológico segundo Isabel Rodrigues da Artipesca, ela própria pescadora nas horas vagas: «A pesca é uma terapia pela concentração que proporciona, areja a cabeça, a tal ponto que não apetece ir embora. Os pulmões ficam oxigenados, a boa disposição volta!». A pesca tem também os seus rituais próprios: nunca se deseja boa pescaria a um pescador mas sim boa merda como aos actores antes de entrarem em cena.
Alem destas duas firmas, não é de esquecer o vendedor de rua, hoje o único dos vários que por aqui haviam, que todos os dias está na esquina da Rua com a Travessa dos Remolares a vender iscos, engodos e peças em 2ª mão, negócio pequeno mas tão útil como as vizinhas lojas. Outras 2 firmas a Casa do Pescador e a Solipesca encerraram nos últimos anos, mas foram muitas mais no passado, sobretudo para abastecer as armações de pesca do alto e da pesca costeira que demandavam o Porto de Lisboa, gerando grande actividade piscatória que aqui se produzia diariamente, ao longo de todo o ano, mesmo em frente, no Cais do Sodré e no Cais do Gás, abastecendo o Mercado da Ribeira até ao terceiro quartel do século XX, desde então transferida para a Docapesca em Pedrouços.
G.P.
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