Lojas de Costura e Alta-Costura da Baixa e do Chiado
Uma profissão, um ofício ou uma arte, foram as palavras assumidas por estas profissionais. Geralmente profissionais independentes que no género masculino assumem o nome de alfaiates e paralelamente, no que toca à mulher, costureiras e modistas. Percursos profissionais, tendencialmente, encetados em tenra idade, em que a escalada pela ascensão profissional se iniciava, geralmente, pela categoria de aprendiz e evoluía no sentido de mestre. Mestria essa, que no fundo implicava o dominar de todas as técnicas (moldar, cortar, coser, etc.) traduzindo-se laboralmente numa maior autonomia. Neste vector houve quem acrescentasse outro dado, talvez justificado pelo tempo e empenho dedicado à peça, “um certo afeiçoamento (…)” conforme relataram. Apesar deste “fetichismo” não ser novo, sobejamente estudado, não deixa de ser uma constatação. Aliás estas profissionais da confecção e alta-costura, conforme se auto-denominam, complementam esclarecendo que a relação, por vezes, inicia-se antes mesmo de se chegar ao tecido que vai dar forma ao modelo. Começa com um conselho, uma sugestão, uma proposta, … um pouco na senda do coaching, digamos que no que toca ao atendimento quase que as podemos considerar de fashion-coach, ou seja, conselheiras de moda e costura. Mas se hoje sentimos que esta profissão está em “vias de extinção”, tempos houve em que o trabalho das costureiras era imprescindível, referimo-nos aos anos precedentes à II Guerra Mundial. Antes da era do prêt-à-porter (Weill), a mulher portuguesa vestia-se do “labor honesto e incansável das trabalhadoras da agulha (…) que se dedicavam à costura como recurso de combate pela vida, quer nos «ateliers», quer nos lares.” (in jornal O Século de 01/06/1938). E se é verdade que nestes mais de setenta anos volvidos o fulgor da profissão empalideceu - a “Festa das Costureiras” patrocinada pela revista Modas & Bordados (revista feminina que integrava o diário O Século) pertence ao passado - devido à imposição de uma lógica do mercado global. Mas se por um lado a globalização tem ditado a estandardização do consumo, por outro, inerentemente, trouxe o gérmen da importância dos movimentos locais, o valor acrescido da singularidade … da idiossincrasia. Ora, o que vestimos e como vestimos merece uma leitura que passa, também, pelo lado simbólico, a que estas profissionais não são alheias. Unanimemente assentiram que trabalhavam tendencialmente para um público que “procura requinte e exclusividade”. A temática da beldade vs fealdade, tem vindo a seduzir uma arena disciplinar cada vez mais ampla. Mas o depoimento que se elegeu é da psicóloga Nancy Etcoff, onde no ensaio A lei do mais belo captou sagazmente o intangível “a moda é uma forma de arte, um sinalizador de status e uma demonstração de atitude.”
Ora, se a alta-costura sempre esteve mais associada ao «atelier», com presença no espaço público, já os pequenos arranjos - entenda-se apertos, bainhas, substituição de fechos, pequenas transformações, entre outros - estavam confinados à esfera privada, ou seja, à discrição do lar. A costureira dos pequenos arranjos quase sempre atendia na sua própria casa, situação que se tem vindo a alterar na entrada no novo milénio. Temos vindo a assistir à abertura de um número cada vez maior destas lojas (algumas fazem parte de grupos franchisados), que por vezes acabam por se constituir como solução de auto-emprego. Neste âmbito, o micro-crédito merece uma atenção especial pois crê-se ter sido a alavanca principal para muitos destes pequenos negócios e para muitas destas mulheres. Elas que fazem dos nossos pequenos problemas domésticos o seu ganha-pão - cortando, apertando, pregando ou cerzindo as nossas roupas.
Judite Lourenço Reis com a colaboração de Andreia Rebelo, Isabel Silva e Ricardo Teixeira (ISCTE – IUL)
Levantamento das Lojas de costura e alta-costura da Baixa e Chiado (descarregar PDF)