Agências de Viagens da Baixa e do Chiado

Das catorze Agências de Viagens localizadas na Baixa e no Chiado ressalta à vista a sua concentração na Baixa (onde se encontram treze delas), estando a décima quarta isolada nos Armazéns do Chiado. Mas dentro desse eixo destacam-se dois focos: um à volta da rua do Ouro/ rua Augusta, a acompanhar os Bancos, Seguros e outras actividades financeiras aí presentes, e outro, ainda mais circunscrito, na zona do Cais do Sodré - onde se podem inventariar sete agências. Nesta área destaca-se também a presença dos operadores turísticos (fornecedores das Agências), e aí, a título de exemplo da especialização que este mercado está a vivenciar, pode referir-se a James Rawes - no segmento do mar (cruzeiros) - e a recente Jade Travel - apostada em dar a conhecer, sobretudo, o Médio Oriente. Mas nesta zona também é bastante evidente a presença de transitários, onde se sublinha a presença do grupo Pinto Basto - com mais de dois séculos de história, a aproveitar a proximidade com o rio.

Este é, sem dúvida, um ramo de actividade que surge muito em associação à era da globalização, onde o desenvolvimento da tecnologia, e dos canais de comunicação têm convergido e moldado a sociedade. E se há agências que abriram recentemente, em contraposição há as que encerraram. Mas há mais ciclos na vida para além de nascer e morrer, e neste sentido a Cota Viagens, que funcionava na rua dos Bacalhoeiros, rumou para a Praça Bernardo Santareno - ao Areeiro. Todavia a agência Abreu aproveitou o final do séc. XX para expandir e alargar ao mercado internacional,  porque a sua fundação data da primeira metade do séc. XIX, o que a torna, a par com a companhia britânica Cox & Kings, umas das primeiras agências de viagens do mundo.   

Estas lojas, de uma forma geral, têm uma variável comum - a decoração: ambiente clean e funcional que é complementado por apontamentos de cor forte, fornecido pelos mapas-mundo e pelo colorido dos catálogos. Quem está na agência de viagem para receber o cliente é o técnico, consultor, ou agente de viagem, conforme se auto-denominam. Em termos formais não colhemos unanimidade quanto à designação da categoria profissional, mas no que toca à identidade profissional constatou-se um registo binário, ou seja, de um lado os “vendedores de sonhos”, do outro aqueles que privilegiam uma perspectiva mais “nua e crua” da profissão.   

Mas viajar é muito mais e vai muito além da “viagem em si”, são todos os preparativos, as expectativas, o partir … o estar: saborear, aprender, experimentar, fotografar …, o regressar e aquilo que depois ficará - a recordação. E para que esse recordar seja prazeroso estes “vendedores de sonhos” têm que fazer um esforço constante para que nada falhe.

Outro factor a que se tem assistido é a procura cíclica de destinos, e para isso muito tem contribuído aquilo a que se considera o “quarto-poder”, os meios de comunicação vão ventilando destinos paradisíacos, recantos idílicos, que por vezes parecem recortados de contos de fadas. E mercê deste fenómeno, embora sem se esquecer a conjuntura vigente, aumentou e massificou-se a procura de diversos destinos, onde o Brasil surge como exemplo paradigmático. Em 2007, ano do concurso das “7 Maravilhas” na TV, assistiu-se efemeramente à procura de destinos “maravilha”. Ainda neste jogo de influência, recentemente tem-se verificado o aumento da procura pela Índia. Mas este tipo de consumo expressa-se, também, através de um universo simbólico, visto que por trás do local onde se passam as  férias revelam-se indicadores de identidade ou até mesmo de classes sociais. E quem elegia o Brasil em 1980, tendencialmente, começou a procurar outros destinos após a sua massificação no final da década de 90. Porque há todo o lado “simbólico” que é demarcador  de estilos de vida diferenciados:  «afinal os clientes que iam de AutoPulman para o Algarve ou para Benidorm nos anos 80 e os que iam de avião para Londres ou Paris não terão muitas probabilidades de se encontrarem, nos anos 90, no mesmo destino» - diz uma “vendedora de sonhos”.  Esta é, efectivamente, a linha de pensamento de Bourdieu na sua obra La Distinction, mas autores como Featherstone defendem precisamente o contrário. Ou seja, à medida que a modernidade se radicaliza assiste-se à deshierarquização e à permeabilidade da estrutura classista. 
                                  
Em termos estruturais são apontados três grandes marcos: no séc. XX, os anos 80 marcaram a introdução do gosto de viajar, acentuando-se no último quinquénio após a adesão à Comunidade Europeia - em 1986, enquanto os anos 90 se sintetizam pela proliferação de agências de viagens, pelo aumento do turismo incoming (acolhimento) - certamente a reflectir a conjuntura favorável que Portugal  atravessava, nomeadamente com “Lisboa 94-Capital Europeia da Cultura” e com a “Expo`98” e pela fixação massiva de agências espanholas que introduziram no nosso mercado uma metodologia de trabalho mais competitiva, que permitiu oferecer melhores preços e mais destinos. Ora, toda esta dinâmica ajudou largamente à democratização e à consolidação “de viajar” na sociedade portuguesa. O outro marco foi o 11 de Setembro de 2001, que acabou por ser a materialização do conceito do sociólogo alemão U. Beck - “sociedade de risco”. A imagem das Twin Towers a colapsar trouxe a América para perto de todos, e de cada um. E o medo/pânico de viajar apoderou-se das pessoas, como se se tivesse colado ao âmago. Ora, se o mercado sofreu, a todos os níveis, uma grande retracção, neste sector de actividade isso foi desastrosamente visível. Mas as pessoas precisavam de continuar a viajar, e os “vendedores de sonhos” precisavam de continuar a vender, portanto exigiu-se plasticidade ao mercado e a estes profissionais. E reinventou-se este tempo de crise … começou a ouvir falar-se de cruzeiros:  «este produto tem vindo a ganhar terreno … está cada vez mais na moda, e tem cada vez mais adeptos» - adianta-nos a responsável da Halcon Cais do Sodré. Pois como diz Gedeão “o sonho comanda a vida” e se viajar é sonhar não se prive nunca o homem de sonhar. Entretanto, à medida que o séc. XXI avança a segmentação deste ramo de actividade é cada vez maior, há muito mais do que “sol” e “neve”. Há o turismo de recreio, religioso, cultural, étnico, desportivo, estudantil, político, entre outros. E dentre destes o respectivo público-alvo.

Mas enquanto não faz as malas, convidamo-lo a viajar virtualmente através das Agências de Viagens da Baixa e do Chiado.                  


Judite Lourenço Reis

Levantamento das Agências de Viagens da Baixa e do Chiado (descarregar PDF)

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